Artigo publicado pelo « Colorado Permaculture Guild » (The Movement to Dismantle Civilization : Why all permaculture designs should include supporting a culture of resistance) e traduziu em português pelo blog « Sobre as Ruínas da Civilizaçaõ ».
Atualmente, a permacultura opera no reino brilhante do ativismo ambiental verde e aparentemente acredita que a cultura atual pode ser transformada. Por que permacultores devem optar por alinhar-se com os ambientalistas da ecologia profunda que apoiam o desmantelamento da civilização na crença de que ela seja irremediável e que, de fato, está destruindo a vida em nosso planeta ?
Aqui estão alguns motivos que me ocorreram :
O movimento de permacultura sempre foi contrário às crenças e princípios da civilização global. Ele vê a natureza como um parceiro, um professor e um guia a quem devemos honrar e do qual somos totalmente dependentes. Isto é completamente contrário à visão cultural da civilização ocidental ; que afirma o mundo natural está aqui para nos servir, para ser usado e abusado à vontade, e que este abuso é justificável.
A prática da permacultura, por definição, é uma tentativa de afastar-se do modelo de exploração e importação de recursos exigido pela civilização. Viver permanentemente em um só lugar é a antítese do padrão repetidamente exibido por civilizações. Civilizações não podem viver de um só lugar. Elas violentamente importam e exploram os seus recursos humanos e naturais, esgotam seus ecossistemas, dão início a explosões populacionais e colapsos, deixando um rastro de terra empobrecida em seu caminho. A civilização industrial ocidental está atualmente reproduzindo este cenário em escala global. A permacultura, não só não pode existir dentro dos limites da civilização, como também não pode coexistir com uma civilização que está devorando o mundo. Eu acredito que tentar fazer isso não é nem ético e nem possível por parte dos permacultores.
Outra razão reside nas visões comuns da primazia da terra, compartilhadas por ativistas do ambientalismo radical e da permacultura. O primeiro princípio ético da permacultura é “cuidar da terra”. Sem esta base, o segundo e o terceiro princípio, “cuidar das pessoas”, e “redistribuir o excedente segunda nossas necessidades”, são impossíveis. Organismos saudáveis produzem um excedente como uma maneira de alimentar e enriquecer o ecossistema em que eles existem. Simplificando, não há saúde, a menos que cuidemos da terra em primeiro lugar.
Assim como Derrick Jensen afirma na premissa 16 do livro Endgame, “a Terra é o que mais importa. Ela é primordial. Ela é nossa casa. Ela é tudo.”
Existem atitudes partilhadas pela permacultura e pelo movimento ambientalista radical. Permacultores acreditam em trabalhar com a natureza e não contra ela. Promover uma relação para toda a vida é inerente à prática da permacultura. Valorizar as pessoas e suas habilidades cria mais diversidade, criatividade e produtividade na permacultura e em comunidades de ambientalistas radicais. O alinhamento entre o ambientalismo radical e os movimentos de permacultura é especialmente evidente em dois princípios do design de permacultura. A busca por preservar, regenerar e estender todas as paisagens naturais e tradicionais permanentes é um objetivo de ambas as comunidades. Preservar e aumentar a biodiversidade de todos os tipos é visto como sendo essencial para a sobrevivência tanto por ambientalistas radicais quanto por permacultores.
A principal razão para a permacultura se tornar parte de uma cultura de resistência é que dois princípios orientadores da permacultura logicamente impõem o desmantelamento da civilização. O princípio de precaução diz devemos levar a sério e agir sobre qualquer diagnóstico sério ou destrutivo a não ser quando é provado que ele está errado.
A civilização tem provado ser destrutiva para os ecossistemas desde a sua criação. A civilização industrial ocidental está causando a destruição em massa de todos os ecossistemas da Terra.
“A cultura dominante devora biomas inteiros. Não, isso é muito generoso, porque comer implica uma relação biológica natural ; esta cultura não apenas consume ecossistemas, oblitera eles, assassina-os, um após o outro. Esta cultura é um assassino ecológico em série, e há muito tempo reconhecemos o padrão.” – Aric McBay
Uma resposta eficaz e em grande escala contra esta destruição é necessária. As táticas do movimento ambiental, até este ponto, têm sido insuficientes. Estamos perdendo. É hora de mudar a nossa estratégia. É por isso que o movimento ambientalista radical está incentivando para que todas as táticas sejam consideradas como uma forma de pôr fim ao assassinato da Terra. Isto inclui – mas não se limita a isto – a prática da permacultura, a legislação, a ação judicial, a desobediência civil e a sabotagem industrial.
É problemático apostar no movimento de permacultura como a única solução para a destruição global. Apesar da transição para a sustentabilidade em nossas vidas pessoais ser importante, é ainda mais importante enfrentar e desmantelar os sistemas opressivos de poder que promovem a insustentabilidade, a exploração e a injustiça em uma escala global. Na verdade, se estes sistemas forem deixados de lado, os ganhos obtidos pela prática da permacultura serão arrastados pela onda de destruição da civilização.
“Qualquer sistema econômico ou social que não beneficia as comunidades naturais das quais depende é insustentável, imoral e estúpido. Sustentabilidade, moralidade e inteligência (bem como a justiça) exigem o desmantelamento de qualquer sistema econômico ou social ou, pelo menos, impedir que estes danifiquem o ambiente do qual dependem”. – Derrick Jensen
O segundo princípio orientador da permacultura, a ‘equidade intergeracional’, também exige medidas imediatas em resposta à força destrutiva da civilização. Este princípio estabelece que as gerações futuras tenham os mesmos direitos que nós à comida, ar limpo, água e recursos. Esta declaração aplica-se a todos os seres humanos e não-humanos igualmente. Diariamente, espécies inteiras estão sendo eliminadas deste planeta como resultado das atividades da civilização industrial. A ‘equidade intergeracional’, para eles, deixou de existir e todos os dias essa destruição continua extinguindo mais espécies. Permitir que isso continue é inconcebível.
A permacultura se baseia numa estreita observação do mundo natural, e eu acredito que só poderá atingir o seu potencial pleno em uma comunidade humana que reconhece as leis naturais do ambiente onde está estabelecida, primariamente. Praticar permacultura em qualquer contexto que não seja este exige a subversão de nossos princípios e a traição de tudo o que nos alimenta e nos sustenta, tudo o que é sagrado, nossa terra viva. Nós só podemos pertencer verdadeiramente a uma cultura de resistência.
Permacultures e ambientalistas radicais ambos sabem que a terra é tudo, que não há bem maior do que este planeta, do que a própria vida. Devemos-lhe tudo e sem ela, morremos.
É isso, precisamos uns dos outros, e de qualquer tática que pudermos reunir em defesa da Terra.
Nós não podemos aceitar a civilização.
“A tarefa de um ativista não é navegar em volta de sistemas de opressão com a maior integridade pessoal possível. É pôr esses sistemas abaixo.” – Lierre Keith
Jennifer Murnan
Tradução : Ctenomys. (Junho de 2016) / blog « Sobre as Ruínas da Civilizaçaõ ».